"Quem escreve constrói um castelo, e quem lê passa a habitá-lo." Silvana Duboc


sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Ação!


Ela corre abaixada em direção à barricada, ouvindo seus passos logo atrás dela. Ao som de tiros vindos em sua direção, os dois se atiram no chão, rastejando até conseguirem abrigo.
                – Acho que essa barricada vai nos proteger por enquanto. – ele diz à parceira, recostando-se na barreira, enquanto recarrega seu rifle.
                – Sim. Mas nós precisamos sair daqui o mais rápido possível. Vamos ter que abortar a missão.
                – Não agente Scott. Precisamos continuar.
                Ela fita o parceiro com os olhos arregalados, segurando firme o rifle pesado em suas mãos. Uma granada explode perto deles, jogando estilhaços em sua direção. Eles se jogam no chão com os braços protegendo a cabeça. Assim que o barulho ensurdecedor acaba, eles se posicionam na altura da barricada para atirar.  
– Carter, a situação está fora de controle. – ela fala, e logo em seguida avista um dos inimigos e o acerta em cheio no meio da testa.
– Belo tiro Scott. – ele meneia a cabeça na direção dela e ela assente.
– A gente precisa atravessar a rua em direção àquele prédio em ruínas. Eu vou primeiro. Me dê cobertura Carter.
Ele assente, posiciona o rifle no automático, e começa a atirar. Ela se arrasta até um carro estacionado perto de onde estão. Dá uma ultima olhada para o parceiro quando este grita.
– Ei Scott, ta afim de tomar um café? – dando um meio sorriso, sem tirar o dedo do gatilho.
– Acho que hoje não vai dar. – ela grita de volta, balançando a cabeça. Ele conseguia fazer piada até nas horas em que corriam perigo. Era inacreditável.
Em seguida, ela se ergueu e correu atravessando a rua o mais rápido que pode. Quando estava a apenas alguns passos do prédio, passando por uma árvore na calçada, pode ouvir a madeira se espatifando por causa de uma bala, na altura de sua cabeça. Estremeceu, com o fato de quase ter levado um tiro, mas conseguiu chegar ao destino. Ela estava bem, agora precisa ajudar Carter.
Posicionando-se da melhor maneira possível atrás de um buraco na parede lateral, no local onde provavelmente tinha sido uma janela. Abriu fogo em direção aos atiradores, dando cobertura ao parceiro. Ele não precisou de um segundo aviso para se arrastar da barricada e correr em direção à Scott.
– Boa garota. – disse ele ao chegar ao lado dela. – Precisamos ir em direção aos fundos do prédio. Eles estão se aproximando rápido demais. – ela apenas assentiu, trocou o pente do rifle e correram abaixados até um cômodo mais intacto do prédio.
Ela fez sinal com a cabeça para Carter ir para o outro lado.
– No três. – disse ela.
Em seguida entraram no cômodo atirando.
– Limpo. – disse ele.
Prosseguiram pelo corredor, tomando cuidado em cada sala que passavam para não caírem em uma armadilha. Chegando ao fim do corredor, Carter segurou o braço de Scott.
– Espere pelo meu sinal. Eu vou na frente.
Sem esperar pelo consentimento da agente, ele se esgueirou até a sala do outro lado de um pequeno saguão que dava para a rua. Foi então que Scott viu uma pequena granada rolando para dentro da sala. Seus olhos se arregalaram e ela foi tomada instantaneamente pelo pavor.
– Carter! – ela gritou o mais alto que pode.
Ele se virou para ela, mas tinha sido tarde demais. Quase que imediatamente ela viu o corpo dele sendo arremessado para trás com uma força sobrenatural e uma bola de fogo subindo pelo teto. O impacto da exploração também a atingiu fazendo-a cair para trás, quase batendo com a cabeça na parede que ladeava o corredor. A fumaça encheu o ambiente.
– Corta. – disse o diretor. – Bom trabalho pessoal. Está encerrado por hoje.
A agente Scott, na verdade Norah Crawford, levanta-se e retira-se do cenário. Estava acabada, o dia tinha sido muito longo. Mas ainda assim valia a pena. Ser atriz era mais que uma profissão, era um hobbie, era o que realmente gostava de fazer.
– Bom trabalho Norah. – um dos rapazes responsável pela manutenção do cenário, falou ao passar por ela.
– Obrigada Phil.
– Toca ai Norah. – outro funcionário a cumprimentou. – Estava incrível.
– É foi um dia puxado. Mas acho que foi bem proveitoso. – ela sorriu.
Prosseguiu em direção ao seu camarim, abrindo um copo d'água que um dos assistentes lhe ofereceu e deu um longo gole. Mal podia esperar para ir para casa, tomar uma ducha quente e se jogar na cama. Enquanto caminhava podia ouvir o pessoal parabenizando Max também – o ator que protagonizava o agente Carter. Ela nutria sentimentos um tanto interessantes por ele, e achava que ele também. Possuíam uma química incrível durante as gravações. Mas ela não era do tipo que dava o primeiro passo.
– Você esteve ótima hoje. – era ele, caminhando logo atrás dela.
– Obrigada. Você também se saiu muito bem.  
– Ei Norah! – ele segurou seu braço para fazê-la parar a caminhada. Ela se virou em sua direção, sentindo o braço formigar debaixo daquela mão robusta – Tá a fim de tomar um café? – Falou ele no mesmo tom que seu personagem.
                Ela sorriu por dentro, quase gritando, mas se manteve impassível.
– Se for pra eu dizer a fala do filme também, acho que hoje não vai dar. – ela se vira com um sorriso maroto no canto da boca.
– Na verdade... – ele se adianta e para em frente a ela – Eu estava esperando a fala de Norah Crawford. – Ele levanta uma das sobrancelhas, deixando um leve sorriso escapar, aguardando sua resposta.
Ela o encara séria. Então sorri mostrando seus dentes brilhantes.
– Nesse caso... eu adoraria! – A casa e a ducha quente poderiam esperar por mais algumas horas.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Resenha - Ídolo Teen


Bom, antes de qualquer coisa devo dizer que Meg Cabot é uma das minhas escritoras preferidas – se não a mais. Em mais essa história da Meg, ela nos traz uma protagonista típica americana, e as típicas situações enfrentadas na escola – mais precisamente no ensino médio.
A protagonista dessa história é Jenny Greenley – intitulada pela amiga como “a maionese” justificando que como um sanduíche sem maionese, qualquer coisa sem Jenny fica sem graça. Ela é a típica garota que não é necessariamente popular nem excluída, mas se dá bem com todo mundo e aconselha a todos – conhecida por amaciar as situações mais embaraçosas, constrangedores, tristes e etc. Ela faz parte do jornal da escola onde cuida da parte gráfica – essa é a parte que todos sabem, o que ninguém sabe é que é ela quem escreve a coluna do jornal “Pergunte a Annie” onde as pessoas lhe contam seus problemas pedindo ajuda e ela serve de conselheira, respondendo sempre a todos que procuram a “Pergunte a Annie” para desabafar e procurar uma solução. A sua identidade é mantida em segredo já que se os alunos soubessem quem é a Annie, poderiam julgar que ela como pertencente a determinado grupo, não poderia ajudar outros – embora ela se considere neutra.
Os únicos que sabem quem é Annie de “Pergunte a Annie” é a direção da escola e o diretor-chefe do jornal, Scott Bennett – que por acaso namora com Geri Lynn, outra integrante do jornal – com quem Jenny possui muita afinidade.
Um astro do cinema Luke Striker resolve passar duas semanas na escola de Jenny para fazer uma pesquisa para um personagem que irá interpretar. A direção da escolha acha que não há ninguém melhor que Jenny – a pessoa que eles mais confiam para guardar um segredo – para acompanhar Luke em seu disfarce como Lucas Smith, aluno recém transferido, mostrando a escola e impedindo que os alunos descubram a verdadeira identidade do ator.
Muita confusão acontece quando o próprio ator deixa escapar seu disfarce, fazendo com que todos saibam que ele é Luke Striker; e quase na mesma hora Scott e Geri terminam seu relacionamento. Jenny se vê no meio de uma confusão sem fim, onde tenta ajudar o recente amigo Luke (o qual todo mundo pensa que ela tem um caso), tenta recuperar a boneca de sua professora – Betty-Anne, que foi seqüestrada –, tenta fazer com que Vera Schlossberg não seja mais chamada de Vera Vaca no almoço – e fazer com que parem de mugir para a garota toda vez que ela passa pelo corredor do refeitório –, e quem sabe seguir seus próprios conselhos (como Luke lhe disse) e descobrir se Scott Bennett gosta dela não apenas como amiga.
Como sempre, Meg nos traz outra história gostosa de se ler, com personagens comuns mas ao mesmo tempo cativantes. Nos traz algumas lições que nos mostram que quando temos um dom, devemos usá-lo. Não devemos apenas amaciar as situações ruins, mas devemos agir para evitá-las ou acabar com elas de uma vez por todas. Nos mostra que geralmente somos ótimos em dar conselhos aos outros, mas que nem sempre aplicamos isso nas nossas próprias vidas.
Uma história engraçada, repleta de romance e também aprendizado. Viva a Meg Cabot!    

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Resenha - Artemis Fowl - O Menino Prodigio do Crime


Artemis Fowl! O que posso dizer desse personagem um tanto peculiar? Bem, pela primeira vez em quase uma centena de livros lidos, eu não fiquei do lado do protagonista da história. É, Artemis Fowl não é, digamos assim, flor que se cheire. Embora tenha apenas 12 anos de idade, é uma mente brilhante do crime, que arquiteta planos mirabolantes – e, pode-se dizer infalíveis – para satisfazer os seu mais sórdidos desejos. Isso inclui raptar uma fada – que para a infelicidade dele é uma capitã da LEPrecon (Liga de Elite da Policia – Unidade de Reconhecimento) – que anseia entrar em ação e ganhar o prestígio de seu chefe, o Comandante Raiz; o que não facilitara muito o desenvolvimento de seus planos, mas com toda a certeza não impedirá sua realização.
Artemis é um personagem que aparenta ter mais idade do que tem a julgar por suas atitudes e falta de caráter. O Povo, que são os elfos, anões, fadas, gnomos alados e etc., são criaturas interessantes que vêem o Povo da Lama (os humanos) de uma forma mais interessante ainda, e posso dizer que concordo com eles. O autor Eoin Colfer desenvolveu as mitológicas fadas de maneira diferente do “mundo das fadas” que conhecemos. Nessa história elas não são criaturinhas tão adoráveis, repletas de magias e com asas próprias. São na verdade um pouco mais parecidos com os humanos – fisicamente e no modo como configuram sua sociedade, mas não no modo de pensar; nesse quesito ganham uns pontinhos a mais, e são defensores árduos da natureza, recriminando O Povo da Lama por destruí-la com a poluição etc. Possuem tecnologia avançada que é desenvolvida por um centauro paranóico chamado Pótrus. E quantias altas de ouro, que é o motivo pelo qual Artemis quebra as regras – na qual humanos e fadas não podem conviver juntos – roubando um exemplar do livro sagrado das fadas que contém todos os segredos do Povo e as regras de como eles devem agir em determinadas situações; e raptando a capitã Holly Short para conseguir uma quantia pomposa de ouro pelo resgate dela. Só que Artemis não contava com o fato de que o Povo deixaria de agir conforme as regras.    
Uma história divertida que se desenrola de maneira prática e tranqüila, apresentando um mundo das fadas diferente e um protagonista maquiavélico, que em alguns momentos deixa escapar resquícios do menino de 12 anos que ele deveria ser, com suas fraquezas e incertezas. Mas não se deixe enganar, Artemis Fowl pode ser mais sagaz do que se imagina.
Gostei bastante da história e como o próprio livro diz, é uma história para leitores dos 8 aos 80 anos. 

Sequências:
2° - Artemis Fowl: Uma Aventura no Ártico
3° - Artemis Fowl: O Código Eterno
4° - Artemis Fowl: A Vingança de Opala.
5° - Artemis Fowl: A Colônia Perdida  
6° - Artemis Fowl: O Paradoxo do tempo
 

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Me Apresentando


Eu sou boa em cantar,
Eu acho que a música é essência
E você não está a me perguntar
Mas eu estou tentando escrever uma melodia

Eu amo queijo de todo o tipo, inclusive Roqueford
Em pizza, lasanha ou outra, enfim
Mas quanto mais queijo melhor
Caso contrário, não tem o mesmo gosto pra mim

Eu prefiro o doce ao invés do salgado
Quindim, mariola, brigadeiro
Sorvete com chocolate ou pipoca com açúcar caramelado
Antes da comida como a sobremesa primeiro

Eu gosto de dias quentes e iluminados
Gosto quando o sol deixa o céu violeta no fim do dia
Dias frios e sem luz se tornam entediados
Mas mesmo no calor, prefiro água quente ao invés da fria

Gosto mais do cão do que do gato
Chocolate puro do que recheado
Sorriso alegre do que chato
Nunca misturo doce com salgado

E eu gosto que me chamem pelo apelido
Quem tem intimidade geralmente o faz
Do contrario me parece que está aguerrido
E de qualquer maneira me insatisfaz
  
E você não está me perguntando
Mas sou apaixonada pelo som do violão
O piano me inebria e vive me encantando
E quem sabe um dia componho uma canção

Ainda quero escrever um livro
E você continua não perguntando
Mas talvez um dia eu consigo
Só estou me apresentando

Sintonia


Eu sei, é loucura eu só fui almoçar
Em um dia simples, como qualquer outro
Dirigi até ao restaurante chegar
Lá estava minha amiga e fui ao seu encontro

Conversamos, almoçamos e rimos a beça
O restaurante não estava tão cheio
E eu não esperava que algo ali pudesse mudar minha cabeça
Na verdade só fui perceber na segunda vez que ele veio

Ele nos serviu,
Ele veio e trouxe a conta
Ele brincou e sorriu
E quando eu já ia embora ele olhou
Então eu percebi, sorri e ele piscou,

Em um lugar qualquer, em um simples dia
Eu havia o encontrado
E soube que ele também sentia a sintonia
Enfim, eu teria um namorado

*Essa é a prova viva de que eu sou péssima em poesia

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Resenha Nick e Norah – Uma Noite de Amor e Música



            Li esse livro em um dia. É uma leitura bem fácil, e a história se desenrola de forma tranqüila. Realmente adorei a história, apesar de conter muitos palavrões e conter temas homossexuais, o livro possui uma alma musical. A história foi escrita por dois autores, Rachel Cohn e David Levithan, sendo ela responsável por transmitir a perspectiva de Norah e ele por transmitir a de Nick. A estrutura dos capítulos é intercalada onde um capitulo é contado por Nick e o outro por Norah, e assim sucessivamente. Dessa maneira o livro se torna muito gostoso de ler, por proporcionar os dois lados da história. 
Traz personagens muito peculiares, a história foge um pouco daquele romance água com açúcar – não que eu não goste. Ao longo da noite os personagens passam por diversas experiências que acabam transformando suas vidas. Juntos acabam superando suas desilusões e descobrindo que têm muito mais coisas em comum do que imaginam. A profundidade com que os sentimentos e pensamentos dos personagens são apresentados foi um dos aspectos que mais me encantou. 
Uma história que apesar de ser enxuta, pequena, sem muitos detalhes que nos fazem quebrar a cabeça pra entender, realmente vale a pena. Acho que me apaixonei por conter musica na historia. E eu sou apaixonada por musica. Descobri nesse livro reunidas as coisas que eu mais gosto: a leitura em si, o romance, personagens que fogem um pouco daquele padrão de perfeito, e claro a essência da música.  
Nessa terça-feira vi também o filme. Gostei pelo fato de não ter fugido muito do livro, apesar de algumas partes terem sido mudadas - o que não é nenhuma novidade. Mas em contrapartida fizeram muitas cenas, que na minha opinião eram importantes, iguais ao livro.
Mas como sempre, prefiro o livro é claro. Li ele até a metade de novo, logo após terminá-lo, de tanto que gostei, só não terminei porque tenho uma porção de livros na lista pra ler, então não posso me dar ao luxo de ler o mesmo livro duas vezes. Não por enquanto. Mas daqui um tempo, quem sabe!   

segunda-feira, 13 de setembro de 2010


Eu a vi, no leito do hospital. Mas o que eu vi, não era o que eu esperava. A visão dela deitada, imóvel, sonolenta, tão frágil, foi como um choque. Estremeci por dentro, meus olhos arderam com as lágrimas prestes a explodir numa onda de dor, como uma porta de escape para a dor esmagadora dentro do peito. Mas reprimi o choro, o segurei com todas as forças, afinal eu precisava ser mais forte naquela hora, não por mim, mas por meu pai. Eu sabia que se eu chorasse naquela hora, ele desmoronaria, embora seja difícil pra mim, pra ele é mil vezes mais. É a minha avó, mas é a mãe dele. Acho que no final, a minha dor acaba duplicada, porque a dor aumenta por vê-lo desolado, magoado, triste. Seu eu pudesse privá-lo da dor, eu o faria, e a sentiria por ele. Somos tão parecidos nisso, sentimos as emoções de maneira tão extrema, forte demais, algo além do normal. A dor nos atinge quase implacável. Eu sei que todo mundo sofre, mas sei que por alguma razão, a intensidade e a profundidade com que sentimos é diferente, é sufocante. Eu o amo tanto, que chego a ser egoísta, porque no fim acabo me preocupando mais com a tristeza dele. Quero muito que minha avó supere essa fase tão complicada e triste, quero ver minha avó como antes. Mas também quero que ela melhore pra não ver meu pai assim de novo. Dói demais. Dói duplamente.  

Vózinha, eu te amo, e tenho fé que a vó vai sair dessa, força vózinha. Pai te amo muito, e sei que Deus vai te dar forças, e eu vou estar aqui, ao seu lado, sendo incapaz de acabar com a sua dor, mas incansavelmente disposta a dividi-la!
À minha doce e amada avó, Etelvina; e ao Elry: meu exemplo de honestidade, caridade e simplicidade, meu herói, meu pai!

sábado, 11 de setembro de 2010

Um Outro Mundo



Eu caminho por entre as árvores. Afasto os arbustos suavemente, sentindo seu toque em minha pele. Sinto sob os pés descalços os pequenos gravetos, a mata rasteira, a terra macia e úmida. É quase uma terapia. Prossigo a caminhada, atenta a tudo ao meu redor. Observo as onipotentes árvores centenárias, firmes e fortes em suas grossas raízes. Os troncos envoltos em musgos de um verde brilhante. Aos pés das árvores pequenos cogumelos se aconchegam, flores silvestres demonstram sua beleza, pequenos animais se refugiam. Finos raios de sol penetram o denso bosque, o fazendo parecer cravejado de pedras brilhantes.
            Passo cautelosamente por baixo de um enorme galho compacto e pesado. Não tenho pressa de chegar ao meu destino. Gosto da minuciosa beleza do caminho. Aquele é o meu segundo mundo. O melhor de todos por ser cenário de um romance. Foi aqui, em meio a mata selvagem que eu o vi pela primeira vez. Seus cabelos negros bagunçados pelo vento, caindo sobre seus olhos. Os olhos mais profundos e brilhantes que já vi. Sentado numa mureta de pedra, que em algum dia muito distante, foi um forte medieval. As ruínas envoltas por trepadeiras e inúmeras flores coloridas. Ele trazia na boca uma gaita que tocava tranquilamente, acompanhado pelo canto dos pássaros.
            Subitamente tomada pela saudade, apresso o passo. Preciso ver seu sorriso cintilante e quente novamente. Só pelo fato desse pensamento me ocorrer, sinto um leve calafrio percorrer meu corpo. Preciso dele. Anseio por ele. Sem nem mesmo notar já estou correndo pela trilha que me levará aquele por quem meu coração nunca cansará de bater.
            Ofegante, diminuo o passo. Respiro profundamente tentando controlar a entrada e saída de ar de meus pulmões. Caminho mais tranquilamente e o avisto no mesmo lugar de costume. Ele ouve meus passos se aproximando dele, e para seu canto instantaneamente. Levanta a cabeça para olhar-me com um largo sorriso já estampado em seu rosto. É o bastante para fazer-me fraquejar. É incrível o poder que ele exerce sobre mim. De fazer-me sentir tão bem, calma, ansiando por seus braços. Seus abraços. Seus beijos. Ele se levanta, caminhando em minha direção vagarosamente. Ganhando cada centímetro de distância entre nós, com uma leveza sem igual.
            Eu fecho meus olhos e aguardo seus braços esguios e fortes me envolverem. O sorriso maroto nos lábios dele é quase palpável. Meu coração se contorce de alegria dentro do peito. Em poucos instantes estamos nos braços um do outro. Matando a saudade. Reconfortando a dor há um tempo, abafada. Deleito-me em sua ternura, no toque de seus lábios. Aquele é o nosso mundo. Apenas nosso. Sinto-me imensamente feliz por estar ali. Com ele.
            De repente sou arrastada de meu mundo por uma voz conhecida. Sinto-me um pouco irritada, mas logo abro os olhos, sendo puxada novamente para o breu. Procuro pela voz.
            – Ei, querida. Desculpe acordar você. Vim ver como está. – disse minha mãe com sua doce voz. – Aqui querida. – ela diz e pega minha mão para que eu possa saber onde ela está. O que não é necessário. Embora não possa mais enxergar, posso sentir a presença de uma simples borboleta a distancia.
            – Tudo bem mamãe. Estou bem, apenas tirando um cochilo. – digo erguendo-me em um cotovelo e pondo-me a sentar.
            – Não, querida. Deite-se. Pode descansar, vou ter que sair agora, mas volto mais tarde. – ela me beija carinhosamente na testa e sai do quarto.
            O acidente. Aquele acidente tinha transformado a minha vida de uma maneira inexplicável. Foi por causa do acidente que ele se foi, e eu acabara cega. Mas eu já havia me conformado, não havia nada a se fazer quando a isso. Mas havia algo que os outros desconheciam. Eu tinha um mundo só meu, pra onde podia ir sempre que sentia a falta dele. Bastava apenas fechar os olhos para o breu deixar-me, e tudo ganhar cor e vida novamente. Um sorriso triste se forma em meus lábios. Mas logo o afasto de meu rosto. Em instantes estarei nos braços dele outra vez. Só preciso fechar os olhos, o que não tardo a fazer. Deixo um suspiro ansioso escapar com um sorriso, já não mais triste.                

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Resenha - A Farsa

SINÓPSE: Durante uma escalada nos Alpes suíços. O cirurgião Jonathan Ransom e sua bela esposa, Emma, são surpreendidos por uma avalanche. Na tentativa de buscar abrigo contra uma tempestade iminente, ela fratura a perna, cai em uma greta e morre.
Vinte e quatro horas depois, Jonathan recebe um misterioso envelope endereçado à mulher contendo dois recibos de bagagem de uma longínqua estação de trem. Ao resgatar as malas, ele é surpreendido por dois homens que tentam tirá-las de suas mãos. Durante a briga, o médico acaba matando um deles e deixando o outro gravemente ferido – e só então descobre que eram policiais.

A partir daí, a vida de Jonathan vira de cabeça para baixo. Ele encontra dentro das malas objetos que revelam que sua esposa era uma agente secreta envolvida em terrorismo e espionagem internacional.
Ele parte em uma jornada para descobrir a verdadeira identidade de sua esposa e no que exatamente ela estava metida. Logo de inicio ele começa a ser perseguido por todos os lados. Pessoas confiáveis no final se revelam não tão confiáveis assim. Ele se descobre no meio de uma rede de conspirações. Conflitos entre nações. Falsas identidades. Autoridades corruptas.
Um thriller de tirar o fôlego do inicio ao fim. Trazendo tecnologias avançadas, bombas nucleares, personagens dúbios e muito suspense. Superou completamente minhas expectativas trazendo uma história muito mais complexa do que eu esperava. Demonstrando diversas perspectivas diferentes, deixando a duvida de quem é o vilão e quem é o mocinho. Na verdade, no final essa duvida ainda persiste.
Uma trama muito bem desenvolvida, uma história muito bem fundamentada. É preciso se a ter a todos os detalhes desde o inicio pra não perder o fio da meada.

Simplesmente incrível. Repleto de ação e intrigas, uma trama de espionagem cheia de reviravoltas. Com um desfecho surpreendente. Mal posso esperar pela continuação: A Vingança.

Infidelidade -


                – Por quê?
                – Eu não sei.
                – Eu não entendo. Quer dizer, na verdade eu compreendo. Eu te conhecia, e essa é a pior parte. Mas você disse que comigo era diferente, que era amor de verdade. Eu ainda me lembro quando você dizia: esse sentimento é pra sempre. – ela aperta os olhos, tentando conter a raiva prestes a explodir. Mas ela se controla, é orgulhosa demais pra demonstrar sua fraqueza. – Eu fui ingênua, essa é a verdade. – ela o fita nos olhos. – Espero que tenha valido a pena. Você está livre agora pra fazer isso, sem precisar se preocupar em despedaçar o coração de alguém. – a amargura em sua voz é palpável.
                Ela se vira, dando-lhe as costas para ir embora. Ele se adianta, e a segura pelo abraço.
                – Você vai jogar nosso relacionamento no lixo, assim? Por causa de um erro? São raras as pessoas que têm um relacionamento como esse. O que a gente tem é único. Pense nisso.  
Ela puxa o braço se desvencilhando do aperto de sua mão. Se vira ficando de frente para ele. Com os dentes cerrados, fita o chão:
– Não. Faça. Isso. – fala pausadamente. Então levanta o olhar. Olhando profundamente através daqueles olhos pretos como o breu. – Não tente virar o jogo a seu favor. Não tente fazer com que me sinta culpada. Pela primeira vez na vida, seja homem e assuma seus atos. Droga!
Instantaneamente, o choque se apodera da face dele, deixando-o com o rosto pálido. Ele não quis fazer isso. Não conscientemente. Corre atrás dela, que já está há alguns passos de distância. Da a volta por ela e para em sua frente.
– Por favor! Perdoe-me. Eu imploro.  
– Quem sou eu pra não perdoar? Eu vou te perdoar. Algum dia. E isso é tudo o que você terá de mim.
O choque daquela resposta foi ainda maior. Ele pode ver através daquele olhar inflexível, tomado pela dor, que ela não está blefando. Ele sabe que ela nunca volta atrás nas suas decisões.
– Eu só queria saber, quando? Quando eu deixei de ser suficiente para você? – Uma lágrima insistente percorre sua face.
– Essa não é a questão. – Ele olha para o lado, sussurrando. Balança a cabeça. – As mulheres precisam de uma razão. Os homens de momento.
Ela olha-o incrédula. Sente vontade de gritar, berrar, bater. Ela nunca entenderá. A única coisa que sabe, é que os homens, por alguma razão, agem mais irracionalmente que as mulheres. A tentação da carne sempre é mais forte. E isso é tão injusto. As mulheres e os homens são tão diferentes. Deviam se completar. E se completam na maioria das vezes. Mas existem coisas tão distintas entre eles. E o fato de não pensarem direito em certas horas é uma delas.
– Não. Os homens precisam de desculpas. Desculpas esfarrapadas pra justificarem as suas drogas de erros.
Ela não agüenta mais segurar as lágrimas presas à garganta. Deixa-as escorrer livremente. Não agüenta mais nenhum minuto diante dele. Dói demais. Desvia dele uma ultima vez, e anda o mais rápido que pode. Com passadas firmes e decididas, com o pouco de dignidade que ainda lhe resta. Para o mais longe dele que consegue. Desaparecendo de vista. Deixando para trás apenas o rastro de sua dor.     

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Cumplicidade!


Homenagem às minhas irmãs Bel e Vick!
Eu grito. Ela chora. A outra bate. Ela irrita. Eu me irrito. A outra briga. Temperamentos tão diferentes, tão fortes, tão singulares. Mas que no final se completam de maneira sem igual. Ela é sensível. Eu sou a medida. A outra é agressiva. No fim, ela não é sempre sensível. Eu nem sempre sou a medida. A outra também sabe chorar. Sentimentos reclusos, que acabam partilhados. Choros que viram risadas. Gargalhadas que terminam em lágrimas. Implicâncias que revelam o ciúme nutrido umas pelas outras. Verdades que outros não têm coragem pra falar, são ditas sem medo. Às vezes magoam, mas a sinceridade é fundamental. É a base. Brigamos, mas não ficamos brigadas por mais de 5 minutos. Às vezes são apenas pedidos de perdão. Em outras choramos abraçadas. Sentimentos, pensamentos, acontecimentos são confidenciados. E não há nada melhor que isso. Que amizade recíproca. Que o amor em comum. Unidas pelo sangue. Distintas nas personalidades. Cúmplices de um sentimento nutrido desde o ventre de nossa mãe. Muito mais que irmãs. Amigas de verdade!      

Iluminado


Porque à noite tudo é mais difícil? É à noite que surgem as inseguranças, os medos, a tristeza, a solidão. Durante o dia tudo é mais fácil, nos sentimos mais confiantes, pensamos que o que sentimos com o escuro foi tolice. Tudo parece distante e irreal. Mas basta chegar novamente a noite para tudo voltar, e então não achamos mais tolice.
Acho que isso prova que somos seres da luz. A luz é reconfortante, é revigorante. Enquanto a noite revela o lado mais sombrio da existência.
Eu amo o sol. O admiro pela sua potência e força. Pelo seu calor. Não gosto do frio. Frio para mim é sinônimo de noite, escuridão. Dias sem sol me deixam depressiva, sem forças. Dias de sol iluminam de fato, minha vida. Não apenas o exterior, mas meu interior se felicita pela beleza da luz vibrante e quente.
A luz é sinônimo de vida. A escuridão, de morte. E eu amo a vida, logo necessito da luz. Pois ela mostra a beleza a nossa volta. A escuridão esconde o belo, distorce as formas, camufla o perigo.
Há quem goste da noite. Há quem goste da luz. Acho que quem gosta da penumbra talvez já tenha sido tomado por ela. Ou talvez, aprecie o desconhecido, o risco. Eu prefiro a clareza, a beleza declarada, as coisas como são – sem as distorções da noite.
Enfim, eu prefiro o Sol. E quando não resta alternativa a não ser passar pelo breu da noite, eu prefiro incansavelmente, a luz calma e abafada da Lua. Pois a luz da Lua é o reflexo do Sol, e a esperança da volta dele. De um novo dia iluminado.



segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Desventura.


Um tremor invadiu seu corpo, percorrendo a espinha e se espelhando por todos os lados. Levantou-se em um sobressalto, assustada, com os olhos semi-serrados percorrendo cuidadosamente o ambiente ao seu redor. No mesmo instante sentiu uma dor lancinante no lado esquerdo do abdômen. Contraiu-se com a dor e uma sensação de medo e confusão se apoderou de sua face, até finalmente seu cérebro assimilar o lugar e relembrar onde estava, dando lugar a uma expressão cética e um olhar vago ao seu rosto. Então, ela estava no bosque, rodeada por árvores altas, e havia passado a noite ao pé de uma delas. Foi real. Realmente foi, não havia sido um sonho. Tentando manter suas emoções abafadas, ignorando-as, sentou-se calmamente sobre a raiz exposta da árvore em que dormira. Encostou lentamente as costas na madeira úmida e coberta de musgo, enquanto pressionava o lugar da dor com as duas mãos. Seus olhos fitavam o horizonte, mas sem de fato enxergar algo. Queria manter aqueles pensamentos afastados, mas quanto mais tentava, mais eles pareciam criar força em sua mente. Pensou em como era irônico não conseguir controlar a própria mente. O pensamento de que sua mente tinha vida própria, a fez sorrir fracamente. Um sorriso sem vontade, e que não alcançou de maneira alguma seus olhos. Isso lhe ocorreu no momento também, talvez jamais conseguisse sorrir de verdade outra vez.Sentiu vontade de se levantar, percorrer o bosque em busca de uma saída. Mas tal como veio esse pensamento, se diluiu na mesma hora. De que adiantaria? Estava sozinha. E dessa vez, era definitivo. Talvez pudesse ficar ali para sempre, apenas observando o mundo de vida que continuava a sua volta, parecendo imune ou indiferente a ela. Ouvia o canto dos pássaros, e vez ou outra roedores corriam de uma árvore a outra. Deparou-se com um esquilo que de repente pareceu fita-la ao longe, com as patas na altura da boca, segurando algo que roia insistentemente. Finalmente pareceu cansar-se do que via e correu para a segurança do alto de uma árvore.Assistindo a isso até parecia que o mundo era outro. Que podia ser um lugar tranqüilo e aconchegante. Mas então se conformou pensando consigo mesma que os animais eram irracionais, portanto viviam num mundo à parte. Longe dos horrores da realidade. Subitamente sentiu-se mais cansada. Sentia frio e vontade de dormir. Sabia o que isso significava, mas não tinha mais forças para lutar contra isso. Era mais forte que ela, e ela se sentia exausta. Procurou pelo esquilo uma ultima vez, mas não o encontrou. Suspirou profundamente e fechou lentamente seus olhos que pareciam extremamente pesados. Cedeu ao cansaço. E fechou os olhos pela ultima vez em sua vida, sentindo-se acolhida pela pureza da vida ao seu redor.

sábado, 4 de setembro de 2010

A chuva


Eu olho para fora. Pela janela do meu quarto. E tudo o que vejo é a chuva descendo calmamente. Não há nada que possa impedi-la de cair sobre a terra. Ela é limpa e fria. É como uma benção refrescando o solo arenoso. Purificando. E por um instante eu sinto inveja daquela chuva. Porque ela é livre, e transparente. Ela não tem medo de se mostrar. Encara os obstáculos – não importando quais sejam – porque ela tem um alvo a alcançar.

Eu a vejo caindo sem medo, e se desmanchando contra as pedras. Ela não tem medo da queda. Ou do baque que levará ao bater nelas. Não! E sabe porque? Porque ela sabe que isso é necessário, que as vezes a dor é necessária, para então chegar até a terra fofa. Para finalmente lavá-la de toda a impureza e cumprir seu papel.

A admiro por saber a intensidade com que sua presença é necessária. Algumas vezes desce com suaves gotículas, pois é dispensável mais que isso. Já em outras, desce mais impetuosa, mais forte, acompanhada de raios e trovões. Afinal ela sabe que às vezes até mesmo o céu necessita ser lavado.

E assim ela prossegue fazendo seu trabalho. Purificando tudo ao seu redor. Não se importando com a dor que isso possa lhe causar. Não deixando que alguns obstáculos possam impedi-la. Ela continua firme, independente do que aconteça. Independente dos gritos ao seu redor para parar de cair incessantemente. Ela sabe a proporção certa. Ela tem seu propósito embora muitos desconheçam. E ela não irá desistir, porque ela sabe que no final, chamarão por ela novamente. Ela acredita que no fim, sempre vale a pena!