"Quem escreve constrói um castelo, e quem lê passa a habitá-lo." Silvana Duboc


segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Desventura.


Um tremor invadiu seu corpo, percorrendo a espinha e se espelhando por todos os lados. Levantou-se em um sobressalto, assustada, com os olhos semi-serrados percorrendo cuidadosamente o ambiente ao seu redor. No mesmo instante sentiu uma dor lancinante no lado esquerdo do abdômen. Contraiu-se com a dor e uma sensação de medo e confusão se apoderou de sua face, até finalmente seu cérebro assimilar o lugar e relembrar onde estava, dando lugar a uma expressão cética e um olhar vago ao seu rosto. Então, ela estava no bosque, rodeada por árvores altas, e havia passado a noite ao pé de uma delas. Foi real. Realmente foi, não havia sido um sonho. Tentando manter suas emoções abafadas, ignorando-as, sentou-se calmamente sobre a raiz exposta da árvore em que dormira. Encostou lentamente as costas na madeira úmida e coberta de musgo, enquanto pressionava o lugar da dor com as duas mãos. Seus olhos fitavam o horizonte, mas sem de fato enxergar algo. Queria manter aqueles pensamentos afastados, mas quanto mais tentava, mais eles pareciam criar força em sua mente. Pensou em como era irônico não conseguir controlar a própria mente. O pensamento de que sua mente tinha vida própria, a fez sorrir fracamente. Um sorriso sem vontade, e que não alcançou de maneira alguma seus olhos. Isso lhe ocorreu no momento também, talvez jamais conseguisse sorrir de verdade outra vez.Sentiu vontade de se levantar, percorrer o bosque em busca de uma saída. Mas tal como veio esse pensamento, se diluiu na mesma hora. De que adiantaria? Estava sozinha. E dessa vez, era definitivo. Talvez pudesse ficar ali para sempre, apenas observando o mundo de vida que continuava a sua volta, parecendo imune ou indiferente a ela. Ouvia o canto dos pássaros, e vez ou outra roedores corriam de uma árvore a outra. Deparou-se com um esquilo que de repente pareceu fita-la ao longe, com as patas na altura da boca, segurando algo que roia insistentemente. Finalmente pareceu cansar-se do que via e correu para a segurança do alto de uma árvore.Assistindo a isso até parecia que o mundo era outro. Que podia ser um lugar tranqüilo e aconchegante. Mas então se conformou pensando consigo mesma que os animais eram irracionais, portanto viviam num mundo à parte. Longe dos horrores da realidade. Subitamente sentiu-se mais cansada. Sentia frio e vontade de dormir. Sabia o que isso significava, mas não tinha mais forças para lutar contra isso. Era mais forte que ela, e ela se sentia exausta. Procurou pelo esquilo uma ultima vez, mas não o encontrou. Suspirou profundamente e fechou lentamente seus olhos que pareciam extremamente pesados. Cedeu ao cansaço. E fechou os olhos pela ultima vez em sua vida, sentindo-se acolhida pela pureza da vida ao seu redor.

6 comentários:

  1. Ooooi Pâm. Amei o seu blog *-* Parabéns, está tudo muito lindo ^^
    Adorei o post. Coitada, morreu :/ Mas ficou bem bacana a descrição de toda a cena.
    Sucesso com o PENA&TINTA. Bjs ;*

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  2. Simplesmente adoro esse continho. É triste, mas ao mesmo tempo dá uma sensação de paz por causa da natureza. E adoro como você faz as descrições do que ela sente, do que ela vê e de tudo o mais!
    Parabéns, Pâm. Você tem um dom nas mãos...
    Beijos. ♥

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  3. Bem intimista...
    O que eu particularmente adoro!
    A idéia de experimentar o que o outro sente é tentadoramente encantador!
    ;D

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  4. Boas descrições. Gostei muito do seu texto, sensual, romântico e instigante ao mesmo tempo. Ótimo post!

    Abraços!

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  5. realmente, a palavra para descrever o texto eh melancolico... esta mto bom :)

    parabens e sucesso!


    http://niddotiras.blogspot.com/

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