"Quem escreve constrói um castelo, e quem lê passa a habitá-lo." Silvana Duboc


quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Infidelidade -


                – Por quê?
                – Eu não sei.
                – Eu não entendo. Quer dizer, na verdade eu compreendo. Eu te conhecia, e essa é a pior parte. Mas você disse que comigo era diferente, que era amor de verdade. Eu ainda me lembro quando você dizia: esse sentimento é pra sempre. – ela aperta os olhos, tentando conter a raiva prestes a explodir. Mas ela se controla, é orgulhosa demais pra demonstrar sua fraqueza. – Eu fui ingênua, essa é a verdade. – ela o fita nos olhos. – Espero que tenha valido a pena. Você está livre agora pra fazer isso, sem precisar se preocupar em despedaçar o coração de alguém. – a amargura em sua voz é palpável.
                Ela se vira, dando-lhe as costas para ir embora. Ele se adianta, e a segura pelo abraço.
                – Você vai jogar nosso relacionamento no lixo, assim? Por causa de um erro? São raras as pessoas que têm um relacionamento como esse. O que a gente tem é único. Pense nisso.  
Ela puxa o braço se desvencilhando do aperto de sua mão. Se vira ficando de frente para ele. Com os dentes cerrados, fita o chão:
– Não. Faça. Isso. – fala pausadamente. Então levanta o olhar. Olhando profundamente através daqueles olhos pretos como o breu. – Não tente virar o jogo a seu favor. Não tente fazer com que me sinta culpada. Pela primeira vez na vida, seja homem e assuma seus atos. Droga!
Instantaneamente, o choque se apodera da face dele, deixando-o com o rosto pálido. Ele não quis fazer isso. Não conscientemente. Corre atrás dela, que já está há alguns passos de distância. Da a volta por ela e para em sua frente.
– Por favor! Perdoe-me. Eu imploro.  
– Quem sou eu pra não perdoar? Eu vou te perdoar. Algum dia. E isso é tudo o que você terá de mim.
O choque daquela resposta foi ainda maior. Ele pode ver através daquele olhar inflexível, tomado pela dor, que ela não está blefando. Ele sabe que ela nunca volta atrás nas suas decisões.
– Eu só queria saber, quando? Quando eu deixei de ser suficiente para você? – Uma lágrima insistente percorre sua face.
– Essa não é a questão. – Ele olha para o lado, sussurrando. Balança a cabeça. – As mulheres precisam de uma razão. Os homens de momento.
Ela olha-o incrédula. Sente vontade de gritar, berrar, bater. Ela nunca entenderá. A única coisa que sabe, é que os homens, por alguma razão, agem mais irracionalmente que as mulheres. A tentação da carne sempre é mais forte. E isso é tão injusto. As mulheres e os homens são tão diferentes. Deviam se completar. E se completam na maioria das vezes. Mas existem coisas tão distintas entre eles. E o fato de não pensarem direito em certas horas é uma delas.
– Não. Os homens precisam de desculpas. Desculpas esfarrapadas pra justificarem as suas drogas de erros.
Ela não agüenta mais segurar as lágrimas presas à garganta. Deixa-as escorrer livremente. Não agüenta mais nenhum minuto diante dele. Dói demais. Desvia dele uma ultima vez, e anda o mais rápido que pode. Com passadas firmes e decididas, com o pouco de dignidade que ainda lhe resta. Para o mais longe dele que consegue. Desaparecendo de vista. Deixando para trás apenas o rastro de sua dor.     

5 comentários:

  1. Pãm, fiquei até sem palavras. Me senti presenciando esse momento tão marcante, tão doloroso, amor e ódio. Nossa, gostei bastante.
    Belo texto, parabéns.

    Se quiser, apareça no http://palavraemsintonia.blogspot.com

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  2. Nossa esse é o tipo de situação que a gente NUNCA esquece!

    Suas palavras foram MUITO bem colocadas! ^^



    http://maiorpartedomenos.blogspot.com/

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  3. Infelismente, fato. Mas creio que quando as pessoas se interagem e expõe tudo de forma clara e objetiva, não acontece.

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  4. Triste... :/ Mas adorei! ^^
    Que guri mais idiota! ¬¬' Sério, bem feito pra ele! rsrs
    Ótimo, como sempre. :D

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  5. aaaa...coitadinho dele =/

    sahushaushauhsahu

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